Tradução
de Ricardo Seelig
(matéria
publicada originalmente na Metal Hammer 228, de março de 2012)
LP.
Long play. Vinil. Acetato. Bolacha. O ouro negro! Ok, este último
pode parecer fora de contexto, mas é como eu vejo os meus discos. Eu
prefiro tropeçar em uma pilha de vinis dos anos setenta do que ter
um poço de petróleo em minha casa. Eu sou doente, caras! Apaixonado. Apaixonado pelos discos. Compartilho esse amor com um
monte de pessoas, então ele é um amor promíscuo. São muitos caras
como eu, apaixonados pelos seus discos, em todo o mundo. Alguns LPs ficam
com a gente a vida toda, enquanto outros são descartados só para,
mais pra frente, nos arrependermos de não termos mais tal título em
nossas coleções.
O
meu amor pelos discos de vinil surgiu, é claro, por causa da música,
mas eu tenho uma paixão imensa pelo formato em si. Amo a forma dos
discos. Amo a sua superfície negra brilhante. Amo os números de
catálogos estampados na ranhura dos LPs. Amo como posso “ver” as
partes mais agitadas e as mais calmas apenas olhando para o vinil.
Amo os selos, até mesmo aqueles que, depois de anos de uso, exibem
as marcas do tempo. Amo as capas e, principalmente, o tamanho das
artes. Gatefolds, singles, laminadas, com texturas ou sem, não
importa. Eu amo as marcas que elas exibem com o passar dos anos. Amo
os encartes e as artes personalizadas de cada gravadora. E amo,
principalmente, a magia que sinto quando um disco antigo,
ainda lacrado, chega até as minhas mãos. É como sexo ou uma ótima
refeição acompanhada de uma cerveja gelada em um dia quente.
E
eu amo, é claro, o som. Todo mundo questiona se o som do vinil é
melhor que o do CD. Vamos acabar com essa discussão aqui e agora:
sim, é melhor! E garotada, não mencionem, não me falem em MP3 e
afins. Mantenham essas porcarias longe de mim!
A
qualidade de som do vinil depende de uma série de fatores. A
prensagem, o material com que o disco foi feito e o aparelho onde ele
é tocado. Discos antigos, como os vinis originais dos Beatles, podem
parecer detonados e ainda soar de maneira perfeita. Os mais novos,
especialmente os lançados no final dos anos 80 e durante os anos 90,
podem ter a aparência de novos e um som terrível. Dito isso, eu não
compro apenas discos antigos em ótimas condições, como a maioria ds
pessoas que colecionam vinis. Quero os meus LPs para ouvir, e não
apenas para olhar, então eles tem que, antes de tudo, soar bem.
De
qualquer forma, o vinil soa mais quente, mais delicado, mais dinâmico
e melhor que qualquer outro formato. Então eu sou um velhote? Mas é
claro! Tenho problemas com as novas tecnologias do mundo da música? Sem
dúvida! Você pode colocar a sua coleção inteira dentro do seu
telefone, levá-la para onde você quiser. Se pode fazer isso, então
porque reservaria um enorme espaço em sua casa para guardar os seus
discos? Eu teria várias respostas para essa pergunta, mas a mais
importante é o meu respeito pela música. Eu investi tempo em meus
discos, e a recompensa é gigantesca. Quanto você senta
confortavelmente e ouve os dois lados de um LP com uma cerveja na
mão e usando os seus fones de ouvido, garanto que você terá uma
experiência muito mais gratificante do que qualquer outra. Você não
pode pular as faixas, você não pode passar para frente trechos que
não curte. Você é forçado a transitar pelo disco como um todo, da
maneira como os criadores daquele álbum imaginaram, e é isso que
faz um LP ser uma experiência única.
Coloque
o Sabbath Bloody Sabbath e deixe rolar. Ele irritou você? Te
deixou inquieto? Então você é um escravo da sociedade moderna e
está perseguindo o seu próprio fim.
Relaxe.
Acomode-se. Dê tempo para a música. Vale a pena.
emocionante........
ResponderExcluirLindo cara, é isso aí mesmo. Justamente por isso comecei a colecionar. Ele está certo de cabo a rabo. Emocionante a matéria, mais um pouco e a lágrima iria escorrer ahahah
ResponderExcluirParabéns pela matéria.
Esse comentário é sensacional, já ouvi tantos como esse... só quem ama mesmo os discos e os anos 70 para sentir tal sentimento!!!
ResponderExcluirO legal do disco de vinil é justamente o conceito de obra, que o ouvinte é obrigado a escutar, pelas peculiaridades do formato.
ResponderExcluirEssa é uma vantagem sobre o cd, fora o tamanho da capa que possibilita a vizualização dos detalhes, e os chiados, enfim é um ritual desde o momento que você abre a embalagem lacrada e tira o disco da capa e o coloca no toca discos.
Pois, o brilho do disco já exerce um certo facinio sobre mim, pois parece um espelho negro que permite ver mais que os reflexos emanados dali é algo mágico que, acontece a cada lado virado enfim é inexplicável.
Eu coleciono o formato há exatamento vinte e sete anos, tenho 36 anos, e nesse tempo adquiri uma coleção consideravel e portanto repeitavél pelos títulos que tenho catalogados e detalhe nunca comprei discos ruinspor mais que eu gostasse do artista que os lançasse, pois nunca gostei de disperdiçar dinheiro.
E falo que o MP3 só serve mesmo para conhecer um disco, mas devido as suas limitações, não permite uma análise mais profunda que te possibilita perceber todos os detalhes contidos numa faixa.
Para mim uma coleção de discos não fica restrita apena a posse de material raro que pouquissímas pessoas possam ter, mas sim pela história pessoal contida ali, pois ao me sentar na minha cadeira e olhar para a minha coleção e escolher um álbum para escutar é relembrar uma série de fatos passados.
Coisa que o MP3 não permite por ser algo, que você não corre atrás por tanto, não conquista da mesma maneira que um álbum que você tanto quer, e fora o espaço de sociabilização, pois ao invés de você ficar escondido atrás de uma máquina, você tem a oportunidade de encontrar pessoas que possuem o mesmo interesse que você, e a possibilidades são inúmeras desde a pura e simples troca de idéias, surgem amizades e oir vai.
É esse lance cultural que o disco físico permite o relacionamento interpessoal, coisa que o mp3 vem gradativamente abolindo.
Eu falo isso porque esses dias eu estive numa loja da rede Saraiva, e tive a oportunidade de reviver uma prática antiga conversar sobre música, mas desta vez era um senhor já por volta dos 70 anos e foi um puta bate papo sobre a música na década de 1970 no Brasil e principalmente na minha cidade.
E o resultado disso é que fiz mais um amigo, e o trocamos idéia até hoje e as vezes nos encontramos para discutir som nessa loja, legal não?
Eu nunca vi ninguém que ouve mp3 contar uma história parecido com essa, só ouço histórias de pessoas se escondem atrás de uma máquina que ficam horas atrás de música nesses soulseeks, kazaas da vida trocando idéias em salinhas de bate papo que nada acrescentão de útil para o conhecimento musical.
É algo a se pensar já que isto é uma tendencia que a sociedade cada vez mais vem legitimando nos últimos anos.
Por isso eu prefiro ser chamdo de velho, antiquado e continuar comprando discos de vinil porque a mágia do formato está na rede de sociabilidade que se forma em torno de você ouvinte, consumidor e etc...
É simplesmente impossível para um cara com a minha história de vida não curtir um texto como esse.
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